Para manejar um laço Meu pai era campeão Eu também desde pequeno Tinha essa inclinação Mas papai sempre dizia Que a sua intenção Era me ver estudado Um homem de posição
Aquilo me contrariava Pois a minha vocação Era andar a cavalo Sempre com o laço na mão Laçando os bezerrotes Vendo eles virar cambotes Eu vibrava de emoção
Pra não desgostar meu pai Eu comecei a estudar Tirei diploma do grupo Na escolinha do arraial Mas fiquei aborrecido Quando ouvi meu pai falar Você vai lá pra cidade Os estudos continuar
Aquela triste notícia Fez meu peito soluçar Chegando o dia da partida Eu não pude suportar Com a alma em pedaços Eu olhei para o meu laço Sentindo o pranto rolar
Quinze anos eu já tinha E as férias foi chegada Eu parti muito contente Rever a querência amada Quando fui chegando em casa Numa tarde ensolarada O papai tinha partido Com o transporte de boiada
De longe ainda avistei O poeirão da estrada Cortando o espaço se ouvia O grito da peonada O repique do berrante Machucou naquele instante Minha alma apaixonada
Corri apanhar meu laço No esteio pendurado Saí a todo galope Num potro bem amestrado Naquilo vi um mestiço Correndo no descampado Um peão vinha no encalço Com seu laço preparado
Mas sua besta tropeçou E ele foi derrubado Enroscado no próprio laço Pelo potro era arrastado Eu vendo a situação Corri salvar o peão Atendendo seu chamado
Não sei se foi a destreza Que eu tinha no meu braço Ou se foi algum milagre Que Deus mandou lá do espaço A laçada foi certeira A besta virou nos cascos Eu corri socorrer o peão Que demonstrava cansaço
A minha maior surpresa Foi ver num grande embaraço Meu paizinho querido Que me apertou num abraço E disse num desatino Você nasceu, meu menino Para ser herói do laço