Lá no sítio aonde eu moro É uma beleza divina Eu me deito e me levanto Sem apito e sem buzina Porque lá não tem lombada Nem carro dobrando a esquina O meu carro é minha égua Que caminha muitas léguas E não gasta gasolina
Eu não troco a minha égua Manga-Larga Campolina Com mais de um metro de rabo E com dois palmos de crina Por um carrão importado Nem que venha da Argentina Minha é mais que um carro Anda por cima de barro E não encalha e não patina
Sou caboclo pé rachado Ninguém muda minha sina Gosto de viver no mato E seguir boas doutrinas Meu filhos são bem criados Debaixo da disciplina Deles não sinto vergonha Porque não fala em maconha E não conhece cocaína
De segunda a sexta-feira Não mudo minha rotina Labuto com minha roça E quando a semana termina Pra aquelas beira de rio Eu saio batê corvina Lambari rabo vermelho Eu pego de saco cheio Com rede de malha fina
Com o clima do meu sítio Ninguém se contamina Gozo de boa saúde Não procuro medicina A gente sente o ar puro Entrando pelas narina Poluição por lá não passa Lá em casa só faz fumaça Quando acende a lamparina
É por isso que eu não troco A minha casa na colina Sem murada e sem calçada Sem vidraça e sem cortina Por um prédio na cidade Rodeado de piscina Caboclo mora onde eu moro Ele bebe água sem cloro E como arroz sem parafina